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Meteoros, meteoritos e asteroides, que confusão!

Nos últimos dias fomos “bombardeados” por frases do tipo “Um meteoro entrou na atmosfera” ou “Um meteoro caiu na Rússia”, etc.
Meteoros não entram na atmosfera da Terra e nem na de outros planetas. Meteoros não são corpos, meteoro que em linguagem popular é chamado “estrela cadente”, é um fenômeno luminoso que ocorre na atmosfera, daí o nome meteoro (palavra que tem origem grega e significa “alto/suspenso no ar”). Em um lugar onde não existe atmosfera, como a Lua por exemplo, não há meteoros.

Este fenômeno luminoso surge quando corpos de tamanhos variados, mas em geral minúsculos, menores do que uma cabeça de alfinete, penetram na atmosfera da Terra a altíssimas velocidades. O brilho é consequência do aquecimento do próprio corpo e do ar por atrito e por pressão.
No caso de corpos maiores (escala de metros), o meteoro produzido pode ser chamado também de “bola de fogo”. Esses eventos podem ser vistos e até ouvidos mesmo durante o dia. No caso de uma explosão próxima à superfície, a onda de choque pode provocar acidentes, como aconteceu recentemente na Rússia (Figura 1).

Fig.1: Meteoro visto na Russia em 2013. Fonte: PerthNow.

Esses corpos estão na região do espaço percorrida pela Terra em seu movimento ao redor do Sol. Esta região não é totalmente limpa, e contém restos de corpos maiores como cometas e asteroides que se despedaçaram ao se aproximarem do Sol e da Terra, ou mesmo, estes pequenos fragmentos podem ser restos da própria formação do Sistema Solar, época em que os planetas estavam nascendo.

Em sua grande maioria, esses corpos são denominados meteoroides. São incontáveis e povoam a região por onde orbita a Terra. Nosso planeta também tem seu caminho visitado por asteroides e cometas.

A diferença entre um meteoroide e um asteroide, nas definições mais recentes, reside em suas dimensões. Denominamos de meteoroide aqueles corpos com menos de 10 metros de diâmetro, os maiores seriam então os asteroides. Esses por sua vez, diferem dos cometas tanto pela sua origem como pela ausência de atividade (formação de cauda e cabeleira ao se aproximarem do Sol). Essas diferenças não são tão grandes assim e existem pesquisadores que consideram que muitos asteroides são cometas inativos.

Todos os dias a Terra se choca contra milhões e milhões desses corpos que, em geral, são minúsculos e se consomem inteiramente na atmosfera (sublimam ou vaporizam completamente). Às vezes, como no caso do meteoro visto na Rússia recentemente (ver Fig.1), a atmosfera da Terra pode ser atingida por corpos maiores e nestes casos o resto do corpo que não é inteiramente consumido na atmosfera chega à superfície e recebe o nome de meteorito. Os meteoritos são compostos de metais (ferro, níquel) e/ou de rochas. Os metálicos são muito densos, e um pedaço pequeno (20cm) pode ter até dezenas de quilogramas.

Encontrar e estudar os meteoritos é muito importante. Estes corpos trazem informações do sistema solar primitivo, de sua formação e da formação dos planetas. Estão no espaço praticamente intactos, isto é, não se modificaram durante todo esse tempo. Estudando-os estamos aprendendo sobre nossa própria origem.

Os choques com corpos maiores (asteroides ou cometas), com dimensões na escala de centenas de metros até dezenas de quilômetros, ocorrem raramente. A busca por esses astros é intensa atualmente, pois caso cheguem a atingir a Terra, sobretudo se for em alguma região povoada, o desastre poderá ser minimizado evacuando previamente a região atingida. Estes choques foram muito mais intensos no passado, quando a Terra era muito jovem.

Nos seus aproximadamente 4,5 bilhões de anos, a Terra já realizou, obviamente, bilhões de voltas ao redor do Sol, e com isso varreu da sua órbita esses objetos maiores, restando apenas corpúsculos. Os corpos maiores que podem se aproximar neste momento são oriundos de outras regiões do espaço: cinturão de asteroides, nuvem de cometas, etc.

Vários choques com corpos relativamente grandes marcaram a história da Terra. Por exemplo, quando a Terra tinha apenas algumas dezenas de milhões de anos, ela sofreu um choque com um corpo que possuía aproximadamente o tamanho de Marte (que tem metade do tamanho da Terra). Desse choque surgiu a Lua. Há mais ou menos 66 milhões de anos houve um choque com um corpo de dimensões entre 10 e 15km. Tal evento foi responsável pela extinção de muitas espécies vivas na superfície da Terra entre elas os dinossauros. Sem os grandes répteis predadores, os mamíferos dominaram a vida na superfície terrestre, evoluíram e por isso aqui estamos.

Mais recentemente, no início do século passado, precisamente no ano de 1908, houve um choque ou pelo menos uma passagem rasante de um corpo, que explodiu e pulverizou cerca de 80 milhões de árvores, deixando um rastro de 2150 km2 de destruição na floresta próxima ao Rio Podkamennaya Tunguska, na Rússia.

Entretanto, eventos desse porte não são “privilégios” da Rússia. Entre tantos outros, aqui mesmo no Brasil, existem relatos de um grande choque no Alto Amazonas em agosto de 1930, próximo a fronteira do Brasil com o Peru (ver Fig.2). Mesmo havendo pouquíssima informação a respeito, por se tratar de um local inabitado e de difícil acesso, estima-se que ele tenha sido a segunda maior explosão de um asteroide ao entrar na atmosfera terrestre, desde o século passado, perdendo apenas para a explosão de Tunguska em 1908 na Rússia.

Fig2: Mapa do local aproximado (ponto A) da queda do asteroide no evento apelidado de Tunguska Brasileiro, na região amazônica, próxima a fronteira com o Peru. Fonte: Google.

Conhecido como “Tunguska Brasileiro”, o evento ocorrido no Brasil foi descrito por habitantes da região que disseram ter visto três meteoros no céu, cujas explosões foram ouvidas e sentidas num raio de centenas de quilômetros de distância. Desde 1899, dezenas de eventos semelhantes foram relacionados com asteroides explodindo violentamente ao entrar na atmosfera da Terra, sendo que mais de 20 foram confirmados. Para ter uma ideia da energia da explosão em cada evento, estima-se que o chamado Tunguska brasileiro tenha liberado aproximadamente um terço da energia do evento russo de 1908. Já em comparação com o evento de fevereiro de 2013, também na Rússia, a explosão relatada na Amazônia pode ter sido até 10 vezes maior.

Esses choques não ocorrem somente na Terra. Ao admirarmos a Lua em uma bela foto, ou
quando a observarmos com um pequeno telescópio, não podemos deixar de notar as crateras em sua superfície. Elas são resultado de inúmeros impactos que a Lua sofreu ao longo de sua história. Lembrando: mesmo que a Lua não produza os meteoros devido a ausência de atmosfera, os choques com corpos de todos os tamanhos também ocorrem.

Em julho de 1994 pudemos observar daqui da Terra o choque de um cometa (Shoemaker– Levy 9) ou melhor, de seus 21 pedaços maiores, com o planeta Júpiter. Isto mostra que os outros astros do Sistema Solar também sofrem com impactos, e muitos deles exibem crateras, em alguns casos até mais do que a Lua. Na Terra também temos crateras, mas muitas já desapareceram devido a ação do clima e da atmosfera (vento, chuva, erosões, etc.).

Nem sempre os meteoros são seguidos de desastres como o evento que ocorreu na Rússia neste início de 2013. Todo ano, a Terra atravessa regiões do espaço onde a densidade de meteoroides é muito grande e, consequentemente, a frequência de meteoros vista no céu aumenta. Este aumento no número de meteoroides em regiões da órbita terrestre se deve a passagem de cometas, que cruzam a órbita da Terra deixando fragmentos de suas caudas que são aquecidas e sopradas pelo Sol. Esta é a origem do fenômeno conhecido como “chuva de meteoros”, quando vários meteoros são vistos no céu, surgindo de um mesmo ponto em comum, denominado “radiante” (ver Fig.3).

Fig.3: Imagem de 4 horas de exposição da chuva de meteoros Leonídea tirada em 17 de novembro de 1998. Conforme visto na figura, uma chuva de meteoros é caracterizada quando suas trajetórias provém de um mesmo ponto em comum, chamado “radiante”. Créditos: Juraj Tóth.

Uma das chuvas de meteoros mais bonitas que vemos ao longo do ano é a chamada Alfa- Geminídea, que ocorre em meados de dezembro e pode produzir uma média de mais de 100 meteoros por hora. O radiante da chuva fica próximo a estrela alfa da constelação de Gêmeos, que por sua vez, pode ser facilmente identificada por ser próxima da constelação de Orion, onde se localizam as famosas “Três Marias”. O período da chuva de meteoros Alfa-Geminídea é curto. Em 2013, ela ocorrerá entre os dias 10-18 de dezembro, sendo que o máximo será no dia 14. A Lua cheia irá ofuscar os meteoros menos brilhantes, mas a presença de Júpiter próximo ao radiante, certamente irá agradar os observadores de plantão ao longo da madrugada.

Material Extra:

Origem da Lua – Colisão com Theia

http://adsabs.harvard.edu/abs/2000E&PSL.176...17H

Terminologia e definição do termo meteoroide:

http://adsabs.harvard.edu/abs/1995QJRAS..36..281B

Shoemaker–Levy 9

http://adsabs.harvard.edu/abs/1996EM&P ...73..147H

Lista de explosões de asteroides no ar:

http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_meteor_air_bursts

Tunguska Brasileiro:

http://adsabs.harvard.edu/abs/1995Obs...115..250B

http://adsabs.harvard.edu/abs/2011P%26SS...59...10C

http://www.comciencia.br/reportagens/espaco/espc17.htm

 

 

 

 

 

 

Última atualização em Qua, 27 de Março de 2013 14:05